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Quando o livro desfila: a literatura invadindo novos territórios da economia criativa

  • Foto do escritor: Palme
    Palme
  • 15 de out.
  • 2 min de leitura

Quem disse que livro não desfila?


Nos próximos dias, a São Paulo Fashion Week será palco de um movimento simbólico e, ao mesmo tempo, estratégico: a Estante Virtual patrocinará um desfile. À primeira vista, pode parecer uma ação inusitada para uma marca do universo do livro. Mas, na prática, esse gesto sinaliza uma transformação mais ampla — a literatura ocupar espaços centrais da economia criativa, rompendo a fronteira tradicional das livrarias e feiras literárias para dialogar com novos públicos e linguagens culturais.


Até hoje, como mercado, interagimos menos do que poderíamos com o ecossistema criativo. Moda, música, audiovisual e games aprenderam a construir narrativas que extrapolam seus produtos: vendem experiências, criam comunidades e definem comportamentos. O livro, apesar de historicamente ser um dos grandes vetores culturais, manteve-se em um território mais restrito, muitas vezes por tradição, outras por falta de estratégia integrada. Ao apoiar um desfile, a Estante Virtual sinaliza uma mudança nesse paradigma: o livro começa a sair da estante para circular onde as conversas culturais realmente acontecem — passarelas, palcos, festivais e timelines.


Essa aproximação não é cosmética; é estratégica. Num cenário em que a atenção das pessoas é disputada por diferentes expressões culturais, a literatura precisa se reposicionar. Ao entrar na passarela, o livro se conecta com públicos que muitas vezes não se definem como leitores — mas que consomem cultura intensamente. Essa presença amplia a relevância simbólica do livro, reposiciona marcas editoriais como players culturais e cria pontes com uma geração mais jovem, diversa e conectada. É um movimento de marca que, na prática, também é um convite para que o livro volte a ocupar o lugar de onde nunca deveria ter saído: o centro da cultura.


Não se trata de seguir tendências, mas de se reconhecer como parte ativa delas. Assim como a moda aprendeu a contar histórias, a música se transformou em experiência coletiva e o audiovisual domina a lógica das franquias culturais, a literatura pode — e deve — operar nesse mesmo território híbrido, em que estilo de vida, comportamento e narrativas se encontram. Capas podem inspirar estampas, autores podem dividir o palco com designers e histórias podem influenciar coleções. O livro, afinal, sempre foi matéria-prima de imaginação.


O patrocínio da Estante Virtual na SPFW é, portanto, mais do que uma ação de visibilidade: é uma afirmação de pertencimento. É dizer, com clareza, que o livro não precisa esperar que as pessoas cheguem até ele — ele pode, sim, ir até onde as pessoas estão. E ao fazer isso, ganha potência, atualiza seu papel na cultura contemporânea e abre caminho para novas formas de conexão. Talvez a pergunta mais interessante, agora, não seja “por que o livro está na passarela?”, mas “por que demoramos tanto para colocá-lo lá?”.

 
 
 

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