Eu comecei minha newsletter sem um nome e, por falta de outra palavra, chamei ela primeiro de Palme, meu sobrenome e como me acostumei a ser chamado profissionalmente. Mas desde o começo coloquei um subtítulo: o universo do áudio em doses mensais. Aí esse mês dei um nome para ela: Audioverso…e é sobre isso que quero falar neste texto: universos.
Mas não o universo no sentido cósmico e todos os seus planetas e estrelas. Quero falar de universos de interesse. Podemos usar outras palavras, como complemento ou sinônimos: preferências, fandom, comunidade…mas vamos usar universo.
Todos nós temos nossos universos de interesse. No meu caso o áudio é um deles, então tudo que diz respeito ao universo do conteúdo em áudio me chama a atenção. Eu consumo, pesquiso, estudo, converso com outras pessoas, falo disso, trabalho com isso. Mas outros universos também me interessam: meditação, decoração, a Apple, ficção científica, aviões e comida (mais os doces na verdade).
O interessante é que quando falamos de universos de interesse não estamos falando de formatos, estamos falando de assuntos. Dentro deles cabem muitos formatos, narrativas, serviços, produtos, comunidades e ferramentas. Por exemplo, quando eu quero consumir algo sobre o Audioverso, não necessariamente vai ser um conteúdo em áudio: pode ser um artigo para ler, uma palestra para assistir, uma conversa em um almoço com amigos.
Vamos então trazer isso para um exemplo prático, porque quero aqui neste artigo ressaltar a importância da estratégia multiformato na criação, gestão, comercialização e divulgação de IPs (propriedades intelectuais) e estratégias relacionadas a criação e fomento de comunidades.
Existem muitos exemplos incríveis de universos de interesse extremamente populares, desde o Futebolverso até o Potterverso, passando por Star Wars, o Jovem Nerd e o TikTok. Mas vou falar aqui de um que conheço porque faço parte do projeto desde o dia 1: o geekverso da Storytel Brasil.
Quando começamos a Storytel no Brasil muito se dizia que o consumo de conteúdos em áudio era algo restrito a títulos de não ficção, principalmente negócios e auto ajuda. Decidimos discordar e ousar: criamos uma estratégia para adquirir e produzir conteúdos em áudio de ficção. Dentre as várias categorias que apostamos, vou falar de uma delas: fantasia e ficção científica.
O primeiro passo foi fazer uma parceria com quem já estava neste universo e tinha autoridade dentro desta comunidade: Guga Mafra, Jovem Nerd e Azaghal. Esse passo é muito importante, caso você ainda não esteja inserido nesse universo, caso não seja uma autoridade nessa comunidade.
Isso feito, começamos a juntos escolher conteúdos que fossem do universo de interesse dessas pessoas. Aqui vale uma dica: o formato é menos importante do que o conteúdo, porque não vai interessar um conteúdo em qualquer formato que seja, se ele não for do universo de interesse daquele grupo de pessoas (imagine escrever livros de receitas de doces com bastante açúcar para uma comunidade de diabéticos, para usar um exemplo extremo).
No nosso caso, como somos um app de áudio e leitura, estes são os formatos que nos interessam nesse projeto. Ou seja, estamos, dentro do universo de interesse, entregando conteúdos em um formato específico para essa comunidade.
O desafio então era provar que, mesmo sendo um novo formato para a maioria deles (audiobooks, porque podcasts já eram muito consumidos), eles se interessaram, não porque audiobook é legal, mas porque seriam audiobooks de conteúdos que interessam, fazem parte do universo de interesse. Estou repetindo universo e interesse muitas vezes, mas é porque isso é realmente o mais importante :)
Decidimos os títulos, começamos a lançar no app os conteúdos e - mais uma vez seguindo o que faz sentido para aquela comunidade - começamos a divulgar esses conteúdos usando os canais, pessoas, formatos e linguagem que tem aderência para esse grupo. Isso faz 1 ano e meio, e é importante ressaltar isso, porque universos de interesse e formação de comunidades são coisas que levam tempo e exigem principalmente duas coisas: coerência e consistência.
O resultado? Somente de Janeiro-Setembro de 2021 tivemos mais de 700 mil horas de consumo destes conteúdos no app da Storytel, criamos um catálogo incrível junto e em parceria com estas autoridades, mas também ouvindo a comunidade e, nos tornamos a referência do conteúdo geek em áudio para este universo de interesse.
Para utilizar um exemplo de outro app: o Spotify lançou uma audioserie do Batman e já é o conteúdo (não música) mais ouvido do app globalmente, mais do que podcasts de muito sucesso.
Para confirmar ainda mais esse resultado incrível, duas semanas atrás lançamos o clássico de ficção científica 2001: uma odisséia no espaço, do Arthur C. Clarke. Um título que não é novo, que já existe em outros formatos faz tempo, mas que por ser um conteúdo que atrai este universo de interesse, se tornou o título mais ouvido no app brasileiro em poucos dias…tudo isso sem grandes campanhas de marketing, somente se comunicando com esse universo de interesse, essa comunidade.
O que quero dizer com tudo isso? Que mais importante que um formato ou verbas infinitas de publicidade, trabalhar com conteúdo tem a ver com criar para universos de interesse e criar comunidades em volta disso. A partir daí o formato é o menos importante: se é do seu universo de interesse, você vai consumir. É só olhar para Harry Potter por exemplo: se você é um potterhead (veja que existe até um nome para quem é desse universo), você com certeza já leu os livros, viu os filmes, ouviu os audiobooks, sonha em ir no parque da Disney, tem camisetas, varinhas, canecas, cadernos e tudo mais relacionado ao Wizarding World.
Universo de interesse é o que faz Harry Potter, Star Wars, Disney a tantos outros IPs continuarem e se perpetuarem por décadas.
Ah, sobre o metaverso? Ele é um universo que te entrega a capacidade de criar o seu próprio universo de interesse, em uma camada de vida onde - quase - tudo é possível. Mas isso fica para um outro papo :)
E você, qual o SeuVerso de interesse?
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