Acho que a frase que usei no título deste artigo pode ser colocada em tantos contextos hoje em dia...na vida pessoal, no coletivo, na sociedade...mas ela aqui tem como objetivo chamar atenção para um formato de conteúdo que tem ganhado cada vez mais espaço no mercado e também na rotina de todo mundo: o áudio.
E como estamos falando de áudio, essa coluna pode ser lida ou ouvida. Se você preferir ouvir é só dar o play aqui.
Quero recomeçar essa coluna antes de mais nada dizendo sobre o que ela se propõe a ser: um espaço para falar sobre áudio, sobre histórias para ouvir, sobre audiobooks, podcasts, audiodramas e tudo o mais que faça parte do mundo do entretenimento em áudio.
Então a gente precisa rapidamente lembrar que o áudio - ou a voz - como forma de transmissão de conhecimento não tem nada de novo. A voz foi a primeira forma de transmitir conhecimento, pelos anciões que atuavam como guardiões da cultura dos povos; povos estes que por sua vez ouviam, guardavam isso na memória - talvez o maior patrimônio cultural da época - e recontavam para outros grupos...isso muito antes dos primeiros livros, por volta de 3.000 a.C.
Muito tempo depois o rádio surgiu. O primeiro aparelho doméstico de entretenimento e comunicação em massa. No Brasil, a primeira transmissão ocorreu em 1923, por Edgard Roquete Pinto e Henry Morize e a partir de 1927 começou a era de ouro do rádio, com as radionovelas. Estas histórias dramatizadas, encenadas e com uma parafernália de efeitos sonoros e trilhas musicais foram um sucesso gigantesco, até o surgimento das primeiras telenovelas na década de 1960. Se você nunca ouviu uma radionovela, vale aqui ouvir um trecho:
Aqui um outro vídeo que mostra os bastidores da gravação de uma radionovela:
Para falar mais um pouco do rádio, segundo o Inside Radio 2021, da Kantar IBOPE Media, 80% da população brasileira ouve rádio e, três a cada cinco ouvintes consome rádio todos os dias. Um veículo extremamente resiliente mesmo competindo muitas vezes com a TV e a internet.
Já o audiobook também não é nenhum bebê. O formato de um livro narrado surgiu comercialmente nos EUA na década de 1970 em mídias como o K7 e o CD. Diferente da radionovela, que é dividida em episódios, tem várias vozes, efeitos sonoros e trilha, o audiobook surgiu como uma versão narrada de um livro, com uma única voz, um único conteúdo (não seriado) e com poucos efeitos sonoros na maioria das vezes.
Mas se então não estamos falando de nada novo, por que tem se falado tanto de áudio, conteúdos em áudio e audiobooks nos últimos anos na indústria editorial e cultural?
Porque duas coisas mudaram fundamentalmente: a capacidade de distribuição e de consumo.
Explico: se antes as histórias em áudio eram disseminadas via rádio ou mais recentemente em mídias físicas que tinha que ser carregadas pra lá e pra cá, hoje você tem milhares de conteúdos em um app, no celular que você usa todos os dias, o que significa uma capacidade de distribuição imediata, ininterrupta e global. Ao mesmo tempo, se antes o consumo era complicado (imagine começar a ouvir o CD no carro e ter que continuar em casa, achando o trecho onde você parou), hoje você pode consumir com fones de ouvido sem fio, pausando onde quiser, retomando do mesmo ponto e com a praticidade com que manda mensagem pra alguém.
Alguns dados rápidos sobre esta indústria que só cresce:
30% dos usuários de internet no Brasil consomem áudio
Brasil é o maior consumidor de podcasts segundo o Spotify
Brasil já é o maior mercado de consumo de streaming
4 dos 5 maiores faturamentos de app vem do streaming
+13 apps só de áudio (sem considerar música)
Então é sobre esse novo universo do áudio que vamos tratar aqui!
Vamos falar sobre assuntos como:
modelos de negócio: as assinaturas, os apps, a criação de conteúdos direto para o áudio, a adaptação de histórias para serem narradas;
formatos: audiobooks, séries em áudio (no mesmo modelo das séries audiovisuais), audiodramas (uma derivação das radionovelas) e podcasts (o fenômeno do mundo do audiotainment);
o áudio como profissão: quais são hoje as oportunidades para os profissionais do mercado editorial neste formato?! Editores, narradores, revisores, profissionais de marketing e comunicação.
A ideia dessa coluna é trazer o que já está sendo feito, o que ainda pode amadurecer e começar conversas sobre tudo relacionado ao mundo do áudio. Mostrar que o áudio é entretenimento, informação e também, cada vez mais, profissão!
Até a próxima!
Texto originalmente publicado em www.publishnews.com.br
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